Reducionismo da pobreza histórica e geracional a vulnerabilidade social e/ou risco social. DELMONT (2020).

 

Reducionismo da pobreza histórica e geracional a vulnerabilidade social eou risco social.

Reducionismo da pobreza histórica e geracional a vulnerabilidade social e/ou risco social. DELMONT (2020).

As políticas públicas, ao generalizarem indevidamente a pobreza histórica e geracional com a vulnerabilidade social ou o risco social, cometem um erro categorial que compromete a efetividade das intervenções governamentais e sociais. Tal reducionismo conceitual impede a formulação de estratégias específicas para cada realidade, gerando soluções que, longe de mitigar as desigualdades, perpetuam a exclusão estrutural.


A pobreza histórica e geracional não é um fenômeno momentâneo, mas sim um legado intergeracional marcado pela transmissão sistemática de privações. Essa condição não decorre de um evento inesperado, como no caso da vulnerabilidade social, onde a perda abrupta de renda ou estabilidade econômica precipita uma situação de insegurança. Tampouco pode ser reduzida ao risco social, que se manifesta quando há violação de direitos por terceiros ou pela omissão estatal. A pobreza histórica e geracional é um continuum de marginalização, em que o indivíduo e sua linhagem jamais tiveram acesso a condições básicas de dignidade, reproduzindo um círculo vicioso de exclusão.


Os impactos dessa condição são multifacetados. Na formação educacional, gera barreiras instransponíveis ao aprendizado e ao desenvolvimento de habilidades, perpetuando a alienação e a impossibilidade de mobilidade social. No campo da alimentação, a carência não se resume à escassez quantitativa, mas também à deficiência qualitativa, acarretando problemas crônicos de saúde e perpetuação de iniquidades biológicas. O acesso a direitos fundamentais, como moradia, segurança e saúde, é sistematicamente negado ou ofertado de forma fragmentada e paliativa, sem romper a estrutura de desigualdade.


A participação política e social é igualmente comprometida, pois a pobreza geracional fomenta uma cultura de resignação e descrença no aparato institucional, favorecendo processos de subalternização e cooptação política. A autonomia dos sujeitos é minada desde o nascimento, criando uma dependência estrutural de benefícios públicos insuficientes e perpetuando a incapacidade de autodeterminação econômica. A cidadania, reduzida a um ideal abstrato, não se traduz em uma vivência concreta de direitos e deveres, mas sim em uma experiência de exclusão e sobrevivência marginalizada.


Na formação de núcleos familiares, a pobreza geracional exerce um papel devastador, impedindo a ascensão socioeconômica e perpetuando modelos de relações baseados na escassez, no desamparo e na fragmentação. A impossibilidade de planejamento familiar estruturado, aliada à reprodução de dinâmicas desiguais, gera um ciclo interminável de exclusão, consolidando um cenário onde a pobreza não é um acidente, mas uma condição inescapável.


Diante dessa realidade, as políticas públicas precisam ser reestruturadas para diferenciar claramente a pobreza histórica e geracional da vulnerabilidade social e do risco social. Medidas compensatórias não são suficientes; é imprescindível uma transformação estrutural que rompa o círculo da exclusão e garanta condições reais de emancipação social. Caso contrário, seguir-se-á a lógica do paliativo, em que a desigualdade é apenas administrada, mas nunca superada.

Atenciosamente Prof. Davi Barbosa Delmont.

(73)99969-9580

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