Como funciona o jogo político dentro dos movimentos sociais no Brasil? DBDelmont (2024).

 Como funciona o jogo político dentro dos movimentos sociais no Brasil? DBDelmont (2024).

O jogo político nos movimentos sociais brasileiros é complexo e marcado por diferentes níveis de influência, alianças, disputas internas e interações com o Estado e o setor privado. Aqui estão alguns dos principais aspectos que moldam esse jogo político:

  1. Diversidade Ideológica e Estratégica: Movimentos sociais no Brasil não são homogêneos. Há uma variedade de ideologias e estratégias que vão desde ações de base comunitária e mobilizações populares até alianças mais institucionais com partidos políticos. Movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) têm posições mais radicais, defendendo transformações profundas na estrutura fundiária e habitacional, enquanto outros podem focar em agendas de direitos humanos, ambientais, ou trabalhistas, com estratégias de diálogo e negociação com o Estado.
  2. Disputas por Liderança e Poder Interno: Muitos movimentos sofrem com disputas internas por lideranças e pelo direcionamento das pautas. Estas disputas podem surgir de diferentes visões sobre como o movimento deve se posicionar politicamente, quais temas priorizar, e até como devem ser as relações com o Estado. Essas disputas internas são um reflexo das próprias desigualdades e tensões presentes na sociedade brasileira e, às vezes, podem enfraquecer a coesão do movimento.
  3. Cooptação e Dependência Estatal: Movimentos que buscam diálogo com o governo, frequentemente enfrentam o risco de cooptação. Programas e benefícios estatais oferecidos a lideranças ou membros dos movimentos podem criar uma relação de dependência, afetando a autonomia política do movimento e limitando sua capacidade de criticar o governo. No entanto, alguns movimentos mantêm uma postura crítica, mesmo ao negociar com o Estado, para garantir uma independência ideológica.
  4. Influência Partidária e Políticas de Alianças: A proximidade de movimentos sociais com partidos políticos pode fortalecer ou limitar suas pautas. Durante o período de governos progressistas, muitos movimentos tiveram maior acesso ao Estado e conseguiram avanços significativos em suas agendas. No entanto, essa proximidade também pode levar à desmobilização, uma vez que as pautas são absorvidas pela agenda governamental, dificultando a capacidade de resistência em momentos de retrocesso político.
  5. Uso das Redes Sociais e a Polarização: As redes sociais transformaram as estratégias de mobilização e articulação. A internet facilita a divulgação das pautas e a conexão entre diferentes movimentos, mas também expõe o movimento a críticas e ataques, especialmente em contextos de polarização política. Movimentos com pautas mais progressistas enfrentam resistência e campanhas de desinformação, o que obriga uma adaptação constante nas estratégias de comunicação.
  6. Interação com o Setor Privado e ONGs: O financiamento de algumas ONGs e fundações internacionais é outra dinâmica importante. Embora este apoio possa ser fundamental para garantir a sobrevivência e a atuação dos movimentos, ele também gera questionamentos sobre a autonomia, já que os financiadores podem influenciar as prioridades dos movimentos e pressionar por um discurso menos combativo.
  7. Conflito entre Movimentos Rurais e Urbanos: Os movimentos sociais brasileiros também apresentam divisões entre pautas rurais e urbanas. Movimentos ligados à reforma agrária, como o MST, muitas vezes não têm as mesmas prioridades ou abordagens de movimentos urbanos focados em habitação e transporte, como o MTST e o Movimento Passe Livre (MPL). Embora haja pontos de interseção, como o direito à terra e à moradia, as estratégias e as alianças políticas divergem.
  8. Serviço Social e Movimento Social. O Serviço Social ainda não tem um movimento social consolidado. Ocasionalmente surgem movimentos sociais com boas bandeiras de luta e se lançam em busca daquilo que acreditam ser seus direitos, um fogo genuíno, com intenções honrosas, mas no momento de consolidar as ações, falta apoio técnico, reconhecimento, acolhimento, orientação, direcionamento, e por isso morrem. O Serviço Social não tem base sindical formada. Aqueles que defendem que o serviço não deveria ter sindicatos de categoria, mas participar de sindicatos maiores. Do ponto de vista estratégico essa seria a melhor opção. Pois sindicatos maiores tem mais poderes políticos e por sinal tem base nacional. Conheço pelo menos 5 movimentos sociais no Brasil nesta década, que já mobilizou um bom número de pessoas e ações. Não se fala disso nas faculdades? Não se fala disso nas autarquias? Porque negligenciam a participação popular negando o acolhimento e reconhecimento público destes movimentos sociais? Quantos movimentos sociais ainda morrerão jovens por falta de sensibilidade daqueles que possuem o poder de dar vez e voz participação popular no cenário politico do serviço social. Eu me sinto engasgado e engessado dentro de uma torre de mármore, pela cultura centralizadora do conjunto CFESS/CRESS do poder politico em não acolher os movimentos sociais. Não só acolher, mas reconhecer, identificar, legitimar, convidar para conversar. Há quatro anos me pego chorando a noite por ver pessoas desistindo de lutar pelo serviço social, dada insignificância alienante da profissão que escolheu exercer. Ei, estamos sofrendo aqui embaixo, será alguém aí de cima podem fazer alguma coisa pelos movimentos sociais do serviço social? Quantos ainda vão morrer? Quanta paixão revolucionária precisa morrer até vocês nos notarem? Nunca serei o que sonhei ser, não alcançarei o doutorado. Mas estou onde devia estar e prefiro permanecer. Quantas pessoas estão frustradas por terem escolhido serviço social como profissão? Eu vejo todos os dias. São pessoas, sim, que não conseguem se achar na profissão. A úncia saída são os movimentos sociais de redes sociais, que é o que temos, por hora. Mas aqui tem lugar pra todo mundo. Brigamos, nos dividimos, nos juntamos de novo e brigamos de novo. Assim tem sido, um movimento vira, dois, três, quatro, no fim a maioria entra e extinção, um ou outro sobrevive e reinicia o ciclo. Quem tem o poder, não compartilha desse poder. Estamos abandonados a própria sorte, até que resolvam nos notar. Assistentes sociais, vocês são a voz e a força que transformam vidas! Cada passo nos movimentos sociais é um passo em direção à justiça, à dignidade e à defesa dos direitos do povo. Não desistam de lutar, pois juntos somos mais fortes e capazes de enfrentar qualquer retrocesso. O verdadeiro poder vem de nós, do povo! Sigamos firmes na construção de uma sociedade mais justa para todos!

Esses fatores tornam o cenário dos movimentos sociais no Brasil um espaço de intensos conflitos e negociações. O sucesso de um movimento em alcançar suas demandas depende de sua capacidade de navegar por essas complexas redes de poder, sem perder de vista sua identidade e compromisso com suas bases.

 

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