Como funciona o jogo político dentro dos movimentos sociais no Brasil? DBDelmont (2024).
Como funciona o jogo político dentro dos movimentos sociais no Brasil? DBDelmont (2024).
O jogo político nos movimentos sociais brasileiros é complexo e marcado por
diferentes níveis de influência, alianças, disputas internas e interações com o
Estado e o setor privado. Aqui estão alguns dos principais aspectos que moldam
esse jogo político:
- Diversidade
Ideológica e Estratégica: Movimentos sociais no Brasil não são
homogêneos. Há uma variedade de ideologias e estratégias que vão desde
ações de base comunitária e mobilizações populares até alianças mais
institucionais com partidos políticos. Movimentos como o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e MTST (Movimento dos Trabalhadores
Sem Teto) têm posições mais radicais, defendendo transformações profundas
na estrutura fundiária e habitacional, enquanto outros podem focar em
agendas de direitos humanos, ambientais, ou trabalhistas, com estratégias
de diálogo e negociação com o Estado.
- Disputas
por Liderança e Poder Interno: Muitos movimentos sofrem com disputas
internas por lideranças e pelo direcionamento das pautas. Estas disputas
podem surgir de diferentes visões sobre como o movimento deve se
posicionar politicamente, quais temas priorizar, e até como devem ser as
relações com o Estado. Essas disputas internas são um reflexo das próprias
desigualdades e tensões presentes na sociedade brasileira e, às vezes,
podem enfraquecer a coesão do movimento.
- Cooptação
e Dependência Estatal: Movimentos que buscam diálogo com o governo,
frequentemente enfrentam o risco de cooptação. Programas e benefícios
estatais oferecidos a lideranças ou membros dos movimentos podem criar uma
relação de dependência, afetando a autonomia política do movimento e
limitando sua capacidade de criticar o governo. No entanto, alguns
movimentos mantêm uma postura crítica, mesmo ao negociar com o Estado,
para garantir uma independência ideológica.
- Influência
Partidária e Políticas de Alianças: A proximidade de movimentos
sociais com partidos políticos pode fortalecer ou limitar suas pautas.
Durante o período de governos progressistas, muitos movimentos tiveram
maior acesso ao Estado e conseguiram avanços significativos em suas
agendas. No entanto, essa proximidade também pode levar à desmobilização,
uma vez que as pautas são absorvidas pela agenda governamental,
dificultando a capacidade de resistência em momentos de retrocesso
político.
- Uso
das Redes Sociais e a Polarização: As redes sociais transformaram as
estratégias de mobilização e articulação. A internet facilita a divulgação
das pautas e a conexão entre diferentes movimentos, mas também expõe o
movimento a críticas e ataques, especialmente em contextos de polarização
política. Movimentos com pautas mais progressistas enfrentam resistência e
campanhas de desinformação, o que obriga uma adaptação constante nas
estratégias de comunicação.
- Interação
com o Setor Privado e ONGs: O financiamento de algumas ONGs e
fundações internacionais é outra dinâmica importante. Embora este apoio
possa ser fundamental para garantir a sobrevivência e a atuação dos
movimentos, ele também gera questionamentos sobre a autonomia, já que os
financiadores podem influenciar as prioridades dos movimentos e pressionar
por um discurso menos combativo.
- Conflito
entre Movimentos Rurais e Urbanos: Os movimentos sociais brasileiros
também apresentam divisões entre pautas rurais e urbanas. Movimentos
ligados à reforma agrária, como o MST, muitas vezes não têm as mesmas
prioridades ou abordagens de movimentos urbanos focados em habitação e
transporte, como o MTST e o Movimento Passe Livre (MPL). Embora haja
pontos de interseção, como o direito à terra e à moradia, as estratégias e
as alianças políticas divergem.
- Serviço
Social e Movimento Social. O Serviço Social ainda não tem um movimento
social consolidado. Ocasionalmente surgem movimentos sociais com boas
bandeiras de luta e se lançam em busca daquilo que acreditam ser seus
direitos, um fogo genuíno, com intenções honrosas, mas no momento de
consolidar as ações, falta apoio técnico, reconhecimento, acolhimento,
orientação, direcionamento, e por isso morrem. O Serviço Social não tem
base sindical formada. Aqueles que defendem que o serviço não deveria ter
sindicatos de categoria, mas participar de sindicatos maiores. Do ponto de
vista estratégico essa seria a melhor opção. Pois sindicatos maiores tem
mais poderes políticos e por sinal tem base nacional. Conheço pelo menos 5
movimentos sociais no Brasil nesta década, que já mobilizou um bom número
de pessoas e ações. Não se fala disso nas faculdades? Não se fala disso
nas autarquias? Porque negligenciam a participação popular negando o
acolhimento e reconhecimento público destes movimentos sociais? Quantos
movimentos sociais ainda morrerão jovens por falta de sensibilidade
daqueles que possuem o poder de dar vez e voz participação popular no
cenário politico do serviço social. Eu me sinto engasgado e engessado
dentro de uma torre de mármore, pela cultura centralizadora do conjunto
CFESS/CRESS do poder politico em não acolher os movimentos sociais. Não só
acolher, mas reconhecer, identificar, legitimar, convidar para conversar.
Há quatro anos me pego chorando a noite por ver pessoas desistindo de
lutar pelo serviço social, dada insignificância alienante da profissão que
escolheu exercer. Ei, estamos sofrendo aqui embaixo, será alguém aí de
cima podem fazer alguma coisa pelos movimentos sociais do serviço social?
Quantos ainda vão morrer? Quanta paixão revolucionária precisa morrer até
vocês nos notarem? Nunca serei o que sonhei ser, não alcançarei o
doutorado. Mas estou onde devia estar e prefiro permanecer. Quantas
pessoas estão frustradas por terem escolhido serviço social como
profissão? Eu vejo todos os dias. São pessoas, sim, que não conseguem se
achar na profissão. A úncia saída são os movimentos sociais de redes
sociais, que é o que temos, por hora. Mas aqui tem lugar pra todo mundo.
Brigamos, nos dividimos, nos juntamos de novo e brigamos de novo. Assim
tem sido, um movimento vira, dois, três, quatro, no fim a maioria entra e
extinção, um ou outro sobrevive e reinicia o ciclo. Quem tem o poder, não
compartilha desse poder. Estamos abandonados a própria sorte, até que
resolvam nos notar. Assistentes sociais, vocês são a voz e a força
que transformam vidas! Cada passo nos movimentos sociais é um passo em
direção à justiça, à dignidade e à defesa dos direitos do povo. Não
desistam de lutar, pois juntos somos mais fortes e capazes de enfrentar
qualquer retrocesso. O verdadeiro poder vem de nós, do povo! Sigamos
firmes na construção de uma sociedade mais justa para todos!
Esses fatores tornam o cenário dos movimentos sociais no
Brasil um espaço de intensos conflitos e negociações. O sucesso de um movimento
em alcançar suas demandas depende de sua capacidade de navegar por essas
complexas redes de poder, sem perder de vista sua identidade e compromisso com
suas bases.
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