Teorias dos movimentos sociais. DBDelmont (2024).
Teorias dos movimentos sociais. DBDelmont (2024).
Para que um movimento social
alcance seus objetivos de maneira eficaz, é necessário que ele desenvolva uma
estratégia embasada em teorias que orientem suas práticas e garantam sua
sustentabilidade a longo prazo. Dentre as principais iniciativas teóricas,
destacam-se o enfoque na mobilização de recursos, a teoria das oportunidades
políticas, a teoria da identidade coletiva e a teoria da ação comunicativa.
A Teoria da Mobilização de
Recursos (Resource Mobilization Theory) defende que um movimento social
depende da capacidade de organizar e mobilizar recursos materiais e humanos
para atingir suas metas. Essa abordagem, conforme apontam McCarthy e Zald
(1977), entende que não basta existir uma situação de injustiça para que o
movimento tenha sucesso; é necessário contar com líderes, voluntários,
financiamento e estruturas organizacionais para maximizar seu impacto. Assim,
um movimento com capacidade de captar recursos e alocar profissionais com habilidades
estratégicas tem maior probabilidade de garantir estabilidade e expandir seu
alcance. Além disso, uma rede de alianças com outras organizações e a captação
de fundos externos ajudam a fortalecer a ação coletiva, mantendo o movimento
ativo e bem posicionado.
A Teoria das Oportunidades
Políticas sugere que os movimentos sociais são influenciados por condições
políticas específicas que afetam sua atuação e sucesso. Essa teoria foi
consolidada por autores como Tilly (1978) e Tarrow (1998), que explicam que os
movimentos tendem a prosperar quando o sistema político é relativamente aberto
a novas demandas, quando há apoio de aliados influentes e quando o governo
enfrenta crises de legitimidade. Neste contexto, um movimento que monitora
atentamente o cenário político e identifica brechas para inserir suas pautas em
processos de formulação de políticas tem maior chance de alcançar mudanças
estruturais. Para isso, é recomendável que o movimento analise o momento
político e identifique possíveis oportunidades de aliança com atores
institucionais ou de pressão em momentos de fragilidade governamental.
A Teoria da Identidade
Coletiva é outra abordagem essencial para que os movimentos sociais
alcancem seus objetivos, pois enfatiza a criação de uma consciência coletiva
entre os participantes. De acordo com Melucci (1989), a identidade coletiva é o
reconhecimento mútuo dos indivíduos como pertencentes a um grupo que
compartilha valores, ideais e objetivos comuns. Essa teoria explica que a
coesão interna e a construção de uma identidade forte e bem articulada
fortalecem o movimento, criando uma base sólida de apoio e engajamento duradouro.
Com uma identidade coletiva bem consolidada, os participantes desenvolvem um
compromisso pessoal com o movimento e uma resistência maior a pressões
externas, o que é fundamental para o crescimento e estabilidade do movimento.
A Teoria da Ação Comunicativa
de Jürgen Habermas (1984) traz contribuições valiosas para os movimentos
sociais ao enfatizar o diálogo e a comunicação como instrumentos de
transformação social. Segundo Habermas, a ação comunicativa permite que os
movimentos sociais construam consensos e mobilizem a sociedade por meio do
debate público e da articulação de discursos convincentes. Esse enfoque é
particularmente útil para movimentos que enfrentam resistência ou precisam de
legitimidade pública para alcançar seus objetivos. Por meio do uso estratégico
da comunicação, é possível esclarecer demandas, combater desinformação e
engajar a população de maneira inclusiva e democrática. Ademais, um movimento
que adota uma postura dialógica é capaz de engajar setores diversos da
sociedade, construindo pontes de solidariedade que ampliam seu impacto.
A Teoria da Polaridade
Antitética – DBDelmont provoca ao enfatizar que, em uma sociedade ainda
marcada pelo conservadorismo, patriarcalismo, opressão e hierarquização
integralista, os movimentos sociais só evoluem por meio de uma polaridade
antitética — e, caso permaneçam sem escuta, tendem a enveredar para a anarquia,
considerada como última alternativa tanto no passado quanto no presente e
futuro. É comum observar que os atores políticos revolucionários, em sua
pluralidade, muitas vezes carregam interesses contraditórios e alheios à causa.
Oriundos do capitalismo desenfreado, esses indivíduos frequentemente veem nos
movimentos sociais uma oportunidade para interesses financeiros, políticos ou
para a promoção pessoal, utilizando-os como trampolins para alavancar seus
próprios objetivos.
Contudo, Delmont argumenta que
essa realidade faz parte do processo de amadurecimento dos movimentos sociais.
Por sua natureza orgânica e autossuficiente, esses movimentos tendem a rejeitar
lideranças que se desviam dos interesses coletivos, descartando representantes
que fogem ao propósito essencial da causa. Assim, o movimento se mantém
resiliente e continua a avançar, pois é vivo, dinâmico, poderoso, invencível e
inevitável.
A polaridade antitética, longe de
ser apenas um elemento de divisão, também tem o potencial de fortalecer a luta
coletiva. Com a maturidade dos participantes e o fortalecimento da base, é
inevitável que, em algum momento, ocorra uma coesão capaz de unificar as
divergências em prol dos objetivos comuns do movimento.
Essas teorias complementam-se e
fornecem um arcabouço teórico robusto para os movimentos sociais. Enquanto a
mobilização de recursos garante a base material e humana, as oportunidades
políticas fornecem o timing e as estratégias de ação; a identidade coletiva
fortalece o sentido de pertencimento e compromisso, e a ação comunicativa
amplia o alcance e a aceitação pública. Portanto, um movimento social que
integre esses elementos em sua prática tem condições sólidas para alcançar seus
objetivos e, potencialmente, gerar transformações sociais duradouras.
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