Dimensões da crise e metamorfose do mundo do trabalho
Os países de capitalismo avançado
viveram na década de 80, a
mais aguda crise do mundo do trabalho. Essa crise teve duas dimensões, a saber:
- aquela
que atingiu a materialidade, a objetividade da classe trabalhadora,
acarretando metamorfoses agudas ao processo de trabalho e ao processo de
produção do capital;
- uma crise
no plano da subjetividade do trabalho, que não se desvincula desta
primeira, mas tem características particulares.
Essa crise afetou sensivelmente
também e diretamente os organismos de representação da classe, especialmente os
sindicatos e os partidos de esquerda.
Primeira Dimensão da Crise
Década de 80 e sua
caracterização:
►
Enorme salto
tecnológico (desenvolvimento das forças produtivas) uso da robótica e da
microeletrônica, dentre outros (que significou a redução do trabalho vivo e o
aumento sobremaneira, do trabalho morto);
►
Padrão
toyotista de produção de mercadorias (nasceu na fábrica Toyota inicialmente).
O que vem a ser o padrão toyotista de produção?
Ele se origina no pós-guerra
japonês, com a necessidade de destruir o sindicalismo de classe, por meio dos
chamados “expurgos vermelhos”; essa produção se distancia daquele sistema de
produção em série, em larga escala, própria do fordismo. No toyotismo, a
produção é flexível. não há grandes estoques (o estoque é mínimo); a acumulação é flexível, adequada às
alterações ocorridas cotidianamente no mercado.
Observação de Beth da Luz: pode ser que esteja presente aqui a obsolescência
programada das mercadorias, ditada pela voracidade do consumismo.
No processo produtivo toyotista o
trabalhador tem que ser polivalente pois precisa saber operar com várias
máquinas ao mesmo tempo.
O autor denomina “sindicalismo de
envolvimento”, a característica sindical dos tempos atuais em que o trabalhador
deve ser convencido de que a empresa é a sua casa. Nessa direção, os ciclos de
controle de qualidade (CCQs) se fundamentam nessa ideologia de adesão aos
ideários empresariais.
Entretanto, com o fenômeno da
globalização, esse modelo de produção foi exportado para outros países do
mundo, da Itália aos Estados Unidos, do Japão a América Latina. É a própria
lógica do capital que se mundializa.
O sindicalismo japonês não supõe
a eliminação do sindicato e sim a conversão do sindicato combativo, autônomo,
num sindicato de empresa, do qual, aliás, o “sindicato participativo” pode ser
o primeiro passo para chegar a um sindicalismo participativo de empresa.
Nessa modalidade de produção, o
trabalhador toma-se vigia de si próprio. Ele e o déspota de si mesmo. Não é
preciso dizer que esse sistema de flexibilização do trabalho supõe a
flexibilização (ou a desmontagem) dos direitos do trabalho. Um sistema de
produção flexível supõe direitos do trabalho também flexíveis. ou de forma mais
aguda, supõe a eliminação dos direitos do trabalho.
Essa flexibilidade produtiva necessita:
►
do trabalhador
disponível;
►
do trabalho
parcial;
►
do trabalho de
terceiros;
►
do trabalho
precário.
O autor chama essas várias formas
de trabalho de subtrabalho, uma subproletarização dos trabalhadores, de modo
que flexibiliza e dá efetividade a um modo de produção que é essencialmente
destrutivo e que também destrói a mercadoria força de trabalho. Os
trabalhadores terceirizados , em geral, não têm sindicatos, não têm direitos,
são menos remunerados do que aqueles que eram da fábrica, ou seja, cria-se um
processo de enorme fragmentação. Se a classe trabalhadora já é fragmentada,
isto é um desafio para uma proposta anticapitalista, quer tem de caminhar no
sentido de incorporar e dar mais coesão a tantas fragmentações.
Por vários motivos, a esquerda
socialista e anticapitalista, tem sido incapaz de mostrar que essa tragédia do
século XX — a tentativa heróica e trágica de construção do socialismo que não
se efetivou (desmoronamento da URSS / Leste Europeu ) — não é a derrota final
do socialismo. Mas, o que fica para as grandes massas, é essa derrota, e isso
tem um efeito muito forte, porque o efeito político-ideológico na consciência
dessa classe é um efeito de retração, de defensidade, de lutar por
reivindicações cotidianas. E isso é fundamental para o capitalismo, na medida
em que se retrai o âmbito de luta para esse universo, no universo da luta
meramente imediata e não se vislumbra nada além da imediaticidade, para além do
capital.
Segunda Dimensão da crise
Essa crise atingiu a
subjetividade da classe trabalhadora, a sua consciência de classe, consciência
de constituir-se corno ser que vive do trabalho.
Isso questionou e atingiu os seus
organismos de representação, tais como os sindicatos e os partidos.
O sindicalismo europeu e dos
paises de capitalismo avançado tem sido incapazes de resistir a essa onda
tecnológica. Eles não têm conseguido sequer sustar a perda dos direitos sociais
e nem mesmo têm conseguido preservar o emprego.
O sindicalismo foi derrotado e
portanto, o sindicalismo de participação não foi uma estratégia eficaz dos
sindicatos.
Houve nestas décadas de 70 e 80:
►
aumento
considerável do desemprego;
►
dessindicalização
(diminuição das taxas de sindicalização);
►
desproletarização
do trabalho fabril, industrial;
►
subprojetarização
ou precarização do trabalho(que chega a 40% ou até 50% da força de trabalho);
►
assalariamento
do setor de serviços;
►
aumento do
trabalho feminino.
O autor
chama a atenção para o fato de que a revolução tecnológica faz desaparecer
profissões, mudando a configuração do mundo do trabalho; também sinaliza que a
polivalência exigida no toyotismo, implica a desespecialização do trabalhador,
na maioria das vezes.
Uma dimensão essencial da crise
sindical, é que os sindicatos não incorporam esses trabalhadores da economia
informal, esse subproletariado, esse trabalho precário, terceirizado, e hoje
ele é parte importante da classe trabalhadora. Quanto mais ele se distancia
dessa massa de trabalhadores, mais corporativista ele se torna.
O autor conclui ressaltando que
as metamorfoses ocorridas no trabalho, só não eliminaram a ”alienação“ do
trabalho, como levaram a uma intensificação do estranhamento, um estranhamento
tanto no processo de produção, como na esfera do consumo. De modo que,
estranhado na produção, estranhado no consumo, estranhado na reprodução e
estranhado em várias dimensões da vida cotidiana, não me parece que a sociedade
produtora de mercadorias tenha eliminado o estranhamento, a alienação do
trabalho.
Comentários
Postar um comentário